Compositor de música instrumental e mista que valoriza a ideia de discurso como "a razão ativa e a energia que tudo anima" - Bruno Gabirro está Em Foco no MIC.PT no mês de novembro.
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Soprano, Barítono, Recitante, Coro de Crianças e Orquestra Sinfónica
Soprano, Barítono, Recitante, Coro de Crianças e Orquestra Sinfónica
Título do documento O Lobo Diogo e o Mosquito Valentim
Subtítulo Cantata Profana (In Memoriam Francis Poulenc)
Data de Composição 2002/Jul · 2002/Sep
Núm. Catálogo Op. 41
Dedicatória
A Jorge Vaz de Carvalho e António Pires Cabral
Instrumentação Detalhada
Categoria Musical Solista(s) e Orq./Ens. e/ou Coro/Conjunto Vocal
Instrumentação Sintética Soprano, Barítono, Recitante, Coro de Crianças e Orquestra Sinfónica
Estreia
Data 2002/Dec/20
Intérpretes
Angélica Neto (soprano), Jorge Vaz de Carvalho (barítono), Paulo Pires (recitante)
Coro Infantil do Círculo Portuense de Ópera
Orquestra Nacional do Porto
João Paulo Santos (direcção)
Entidade/Evento Concerto de Natal
Local Teatro Nacional de São João
Localidade Porto
País Portugal
Texto
Autor do Texto A. M. Pires Cabral
Título do Poema ou Texto O Lobo Diogo e o Mosquito Valentim
Notas Sobre a Obra
“Combatê-lo, tu? Não é possível. Não passas de um menino e ele é um homem de guerra desde a sua mocidade.” [ Iº Samuel / 17 / xxxiii ]
Esta obra foi escrita no verão de 2002. Talvez seja essa uma das razões pelo facto de ela estar eivada de um certo optimismo estival. Foi literalmente composta em mangas de camisa, na lassidão, na maré vasa do tempo. Não queiram imaginar o prazer que me deu, chegado que estou aos 40 anos de idade, poder começar uma obra com o mais memorial dos incisos era uma vez, e ainda por cima, era uma vez um lobo, esse animal mitológico que povoa o imaginário humano desde o maravilhoso infantil até aos pesadelos adultos da licantropia. O lobo não é apenas um mamífero. É um símbolo que espreita.
Baseei-me na história original do escritor António Pires Cabral, O lobo Diogo e o mosquito Valentim. Esta história colheu-me desde o início por conter duas lições muito inspiradoras, confrontadas em dois campos semânticos contrastantes e expressivamente justapostos. Um, de estirpe nobilíssima, parabólico: os homens não se medem aos palmos. Outro, de estirpe pragmática, património do anedotário: Obrigado, não! Toca a pagar o servicinho. Desta confrontação entre o bíblico David vs Golias e o proverbial Lazarilho de Tormes resulta uma faísca saborosa, o fulminante que detonou estes quarenta minutos de música.
Em duas penadas, trata-se de um lobo que, para além de estúpido, é caprichoso, prepotente e facínora. Reina na floresta num regime de opressão arbitrária. Entre outros caprichos, tem o vício de jogar à lambada com os animais. Dá e leva, mas vence sempre porque é o mais forte. O jogo está desde logo inquinado por esta deslealdade. E ninguém escapa: velhos e novos, miúdos e graúdos. É nesse jogo idiota que Diogo sublima toda a sua força bruta. É por ali que ele decanta a sua opressão, maltratando a bicharada. Alguns animais, uns melhor, outros pior sucedidos, vão-lhe fazendo frente.
Policarpo, o porco-espinho, por exemplo, consegue criar um estratagema muito inteligente por forma a que Diogo lhe dê, em vez de uma lambada, um pontapé no rabo. E consegue. Primeiro pede à raposa Rosa que lhe ponha ligaduras nas patas dianteiras. Depois procura o lobo para lhe dar uma lição. Quando o encontra propõe-lhe jogar ao pontapé, já que está com as mãos ligadas. Diogo acha a ideia “maguenífica” para variar. Policarpo assenta-lhe primeiro e com toda a sua força ruminada, um pontapé. Agora é a vez de Diogo: depois de tentear o seu lance, arruma-lhe com toda a força um pontapé. Mas esqueceu-se daquele pequeno pormenor muito espinhudo. Diogo foi em três patas para o hospital. Entre os bichos houve grande festa. Policarpo foi celebrado. Mas...Diogo curou. E logo ao vício tornou. Nem o pobre Minervino, o sábio mocho, poupou.
É neste cenário de desânimo que surge o agudíssimo mosquito Valentim, intrépido, zunindo com uma atitude de “quantos são, quantos são?”. Os bichos recebem-no com frieza e desdém (aliás, convenhamos muito sinceramente: para além de São Francisco de Assis, haverá mais algum ser que não receba um mosquito sem ser com uma mão em riste?). Pois será ele, precisamente, o mais pequeno dos animais, que irá resolver a questão. Ele será o libertador. Arruma a questão através de um ataque de cócegas: mete-se numa narina de Diogo, esvoaçando, esvoaçando, esvoaçando, multiplicando por mil e mais mil as cócegas. E é no abismo das cócegas que Diogo cai. E é nesse vórtice que Diogo desaparece para sempre.
Agora os animais, perdida que foi uma boa oportunidade de não o desdenharem, perdida que foi uma boa oportunidade de não o hostilizarem, celebram Valentim, o libertador, celebram o desassombro de pequeno David, na proverbial volubilidade de opinião popular. Vox populi no seu melhor. Agora Valentim já é o herói: eis o triunfo da carneirada. Mas Valentim declina o convite para ser o novo rei. Valentim não é político porque fala sempre a verdade e não faz promessas que não possa cumprir. Dos bichos apenas quer uma gota de sangue de vez em quando.
Esta obra é uma encomenda da Orquestra Nacional do Porto e é dedicada a duas pessoas: ao promotor do projecto e director da O.N.P., Jorge Vaz de Carvalho e, last but not least, ao autor da história, raiz inicial e irredutível desta aventura, meu primo António Pires Cabral.
Eurico Carrapatoso, Lisboa, 7 de Novembro de 2002
Encomenda
Data 2002
Entidade Orquestra Nacional do Porto
Localidade Porto
País Portugal
Circulação
Obra
Tipo
Data
Entidade/Evento
Local
Localidade
País
Intérpretes
Observações
Inv Row
O Lobo Diogo e o Mosquito Valentim
Execução
2003/Dec/20
Mosteiro de São Bento da Vitória
Porto
Portugal
Orquestra Nacional do Porto
Coro Infantil do Círculo Portuense de Ópera
Angélica Neto (soprano)
José Corvelo (barítono)
Palmira Troufa (narrador)
João Paulo Santos (direcção)
Observações
O Lobo Diogo e o Mosquito Valentim
Estreia
2002/Dec/20
Concerto de Natal
Teatro Nacional de São João
Porto
Portugal
Angélica Neto (soprano), Jorge Vaz de Carvalho (barítono), Paulo Pires (recitante)
Coro Infantil do Círculo Portuense de Ópera
Orquestra Nacional do Porto
João Paulo Santos (direcção)
Observações
O Lobo Diogo e o Mosquito Valentim
Execução
2006/May/26
Casa da Música - Grande Auditório
Porto
Portugal
Angélica Neto (soprano), José Corvelo (barítono), Paula Abrunhosa (recitante)
Coro Infantil do Projecto Educativo da Casa da Música do Porto
José Luís Borges Coelho (direcção)
Jaime Mota, Rui Taveira (assistentes)
Orquestra Nacional do Porto
Marc Tardue (direcção)
Observações
Primeira apresentação da versão encenada por João Paulo Seara Cardoso (Teatro de Marionetas do Porto)
Primeira apresentação da versão encenada por João Paulo Seara Cardoso (Teatro de Marionetas do Porto)