Author of the Text Eugénio de Andrade
Title of Poem or Text Obscuro Domínio
Year 1971
Text Um dia chega
de extrema doçura: tudo arde.
Arde a luz
nos vidros da ternura.
As aves,
no branco labirinto da cal.
As palavras ardem, a púrpura das naves.
O vento,
onde tenho casa
à beira do outono.
O limoeiro, as colinas.
Tudo arde
na extrema e lenta doçura da tarde.
Author of the Text Eugénio de Andrade
Title of Poem or Text Ofício de Paciência
Year 1994
Text De tão luminosa, essa ferida já nem dói — ó tão mudáveis coisas vindas
na palavra, sucessiva ondulação do mundo
latindo contra a coração,
vagas de sombra ou só de pedra, canção despedaçada
contra os vidros, fulva vagabundagem de abelhas, manhã de junho
tão cedo prometida às areias.
Author of the Text Eugénio de Andrade
Title of Poem or Text Até amanhã
Year 1956
Text Que seja fogo e suba ao cume das águas seminais e duras,
e cante, invada, inunde
— juventude, juventude.
Author of the Text Eugénio de Andrade
Title of Poem or Text Mar de setembro
Text Tudo era claro:
céu, lábios, areias.
O mar estava perto, fremente de espumas. Corpos ou ondas: iam, vinham, iam, dóceis, leves — só ritmo e brancura. Felizes, cantam; serenos, dormem; despertos, amam, exaltam o silêncio. Tudo era claro, jovem, alado.
O mar estava perto. Puríssimo. Doirado.