Data 2022/Apr/09
Intérpretes
Coro de Pequenos Cantores de Esposende, Coro Ars Vocalis, Carlos Pinto da Costa e Flora Castro (violinos), Eugénia Lima (viola), João Pinto da Costa (violoncelo), André Silva (percussão), Erica Versace (harpa), Diogo Zão (piano), Helena Venda Lima (direcção musical)
Local Igreja Matriz de Apúlia
Localidade Esposende
País Portugal
Autor do Texto Bernardo de Vasconcelos
Título do Poema ou Texto Cântico de amor
Pater Noster é uma obra sacra para dois coros e sete instrumentistas (quarteto de cordas, harpa, piano e percussão) constituída por seis andamentos. Fruto de uma encomenda do Coro de Pequenos Cantores de Esposende e do Coro Ars Vocalis, é dedicada a ambos e à sua diretora Helena Venda Lima.
Um prelúdio instrumental anuncia alguns dos temas musicais dos cinco andamentos corais que se seguem e procuram exprimir o caráter devocional e espiritual dos textos literários. Estes são fragmentos da obra poética de Bernardo Vasconcelos (monge beneditino) –
Cântico de Amor – no segundo, terceiro e sexto andamentos, e também os textos latinos
Crux Fidelis e
Pater Noster, acompanhados pelas respetivas melodias gregorianas.
A música vai ao encontro do caracter de oração no segundo andamento,
Cantar do Exílio (para coro, harpa e percussão), através de uma alegre entoação coral em uníssono reclamada pelo conteúdo poético. No terceiro andamento – o mais longo e denso –
A um Pai espiritual (para vozes agudas e tutti instrumental), são desenvolvidas ideias musicais que simbolizam a procura de Deus, expressa nos versos
Bendita Cruz! Caminho estreito ou
Criatura que busca o Criador. O ambiente místico é aqui introduzido por uma sonoridade misteriosa e sombria, reforçada por uma longa nota pedal grave que representa a dimensão material e telúrica que subjaz à citação da melodia tradicional portuguesa
Ai, Ó divina Santa Cruz, por sua vez simbolizando o percurso do crente conduzido pela fé. Este trajeto atinge o seu clímax quando o coro canta «cego que busca a luz», evocando a ascensão espiritual e o desejo de redenção.
O significado da Cruz é reforçado no quarto andamento com a melodia gregoriana
Crux fidelis cantada em uníssono pelas vozes masculinas e acompanhada pela harpa, pelo violoncelo e pelos crótalos, num discurso musical sereno e delicado, de recolhimento contemplativo. Segue-se um ambiente contrastante no quinto andamento,
Pater noster, onde a sonoridade vocal no registo agudo introduz um ambiente etéreo e diáfano que gradualmente se expande a todas as vozes e aos instrumentos num expressivo crescendo de intensidade. A meio do andamento Cristo é descrito como um «delicado jardineiro d’almas», num momento único de recitação poética.
No último andamento,
Luz, elementos musicais e poéticos dos andamentos anteriores são recordados, como o tema principal do
Prelúdio, agora reforçado pela participação dos coros. A confluência de todos os intérpretes na parte final é reclamada pela secção em estilo fugado que conclui a obra de forma apoteótica com as palavras «Ó Deus ó tudo! Dor e amor», ensaiando a intensa vivência religiosa do monge beneditino.
Pedro Santos