Jovem compositor que em abril completou 30 anos, sendo uma das vozes mais ativas no contexto da música contemporânea em Portugal - Pedro Lima está Em Foco no MIC.PT em setembro.
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Antes de começar a escrever a música para esta ópera recebi conselhos que me alertavam para o facto de, pouco a pouco, as personagens começarem a tomar posse de mim. Assim também foi o processo composicional destas páginas de música: uma macro-forma que se foi desenvolvendo dentro do meu espírito como uma bola de neve. É-me quase impossível descrever todas as sensações provocadas pela escrita desta ópera. O choro e o desespero, a alegria e o entusiasmo, fazem todos parte do meu dia-a-dia desde que me foi dada a tarefa de compor a minha primeira ópera de grande fôlego. Tratou-se de um trabalho extenso, exaustivo e evocador de vários fantasmas que me levaram a escrever um número interminável de esboços até chegar ao resultado musical que aqui se apresenta.
Perante um libreto inspirador, cuja narrativa esteve, desde sempre, de acordo com os meus desejos criativos; trabalhar sobre estes versos foi das experiências mais satisfatórias, porém assustadora, que já me passou pelas minhas diversas mesas de trabalho.
Conhecer a obra de todas estas personagens escritoras, encontrando um paralelo entre a sua criatividade e os seus impulsos de autodestruição, foi a principal matéria de estudo durante estes quase dois anos em que me dediquei à reflexão deste universo. Vale a pena… mesmo co-habitando permanentemente com os espíritos destas seis mulheres que, ainda hoje e talvez para sempre, teimam em não sair da minha consciência.
A música, essa, e usando um cliché de retórica, falará por si própria. É inútil perder tempo com explicações técnicas que interessam a um número muito reduzido de curiosos. A música tem essa força: a de comunicar sensações várias, por vezes, através de gestos muito pequeninos; a de manipular a percepção do público através daquilo que ela própria quer dizer. Nestas páginas de música está tudo o que poderia estar, todos estes princípios musicais que têm sido recorrentes no meu trabalho. E que, seguramente, também me acompanharão no futuro.
Os mortos viajam de metro é dedicada aos meus pais, Alda e Carlos, e à minha irmã, Inês que, com sabedoria, equilibraram as horas dos meus dias, fossem elas de chuva ou de sol.
Hugo Ribeiro
abril 2010