2 Sopranos, Alto, Contratenor, Tenor, 2 Barítonos, Baixo, Coro de Câmara, Coro Misto e Orquestra
2 Sopranos, Alto, Contratenor, Tenor, 2 Barítonos, Baixo, Coro de Câmara, Coro Misto e Orquestra
Título do documento Os Dias Levantados
Data de Composição· 1998
Instrumentação Detalhada
Categoria Musical Ópera
Instrumentação Sintética 2 Sopranos, Alto, Contratenor, Tenor, 2 Barítonos, Baixo, Coro de Câmara, Coro Misto e Orquestra
Estreia
Data ~ 1998
Intérpretes
Orquestra Sinfónica Portuguesa
Coro do Teatro Nacional de São Carlos
João Paulo Santos (direcção)
Local Teatro Nacional de São Carlos
Localidade Lisboa
País Portugal
Texto
Autor do Texto Manuel Gusmão
Título do Poema ou Texto Os Dias Levantados
Ano 1998
Notas Sobre a Obra
1. Compor uma ópera sobre sobre acontecimentos recentes com os quais se mantém uma forte relação afectiva e uma memória. Este foi o desafio. Pensei logo na história do mapa do Jorge Luís Borges: um mapa para corresponder com a maior exactidão possível à superfície que pretende retratar teria de ser do tamanho do mundo. Mas talvez por ter tido alguma formação nesse campo, eu sabia que qualquer livro histórico é apenas uma descrição provisória, selecciona e exclui, operando de alguma maneira uma redução dos acontecimentos. O vivido é irrepetível.
As opções de selecção e exclusão foram quase sempre decididas a dois entre mim e o Manuel Gusmão e posteriormente também com Lukas Hemleb. Quis trabalhar sobre um texto que não incluisse figuras históricas reconhecíveis. Os acontecimentos foram colectivos e creio que paradoxalmente o não-reconhecimento se pode tornar um reconhecimento muito mais profundo. Por outro lado o 25 de Abril foi importante para muitas pessoas de muitas maneiras diferentes. Gostaria que as suas vozes, diversas, se pudessem ouvir na peça. Mas como diz Deleuze "não se compõe com memória mas com fabulação. Não se escreve com recordações da infância mas por meio de blocos de infância que são a forma do devir-criança do presente". O texto de Manuel Gusmão, plurivocal, com uma estrutura em quadros que me é cara, e acima de tudo, de extraordinária qualidade literária, foi o meu feliz ponto de partida.
2. Para esta obra a minha maneira de trabalhar não mudou no essencial. A estrutura em quadros do texto favoreceu o trabalho fragmentado que é a minha tendência, mais próximo dos paradigmas Monteverdi do que de Wagner, de Ligeti do que Stockhausen etc. Paralelamente aos diferentes registos de escrita do texto utilizei alguns arquétipos ritmicos base: ostinato, tango, recitativo, passacaglia, canção, walking bass, marcha, etc nalguns casos remetendo mais ou menos expicitamente para o trabalho de compositores que admiro ( Ligeti, Adams, Schoenberg) e cujas técnicas já tenho usado noutras peças.
Mas aqui , face á imensidão da tarefa, ( antes de começar todas as tarefas parecem imensas, mas esta mais que as outras...) dei comigo a usar os números omnipresentes 25-4-74, e fui deduzindo daí as mais diversas microestruturas: métricas , intervalos priveligiados,sobretudo a segunda maior e a quinta perfeita, ritmos, etc e, da mesma forma mística, as notas la si e ré ( as três primeiras letras de Abril ) como notas polares principais. Esta ferramenta musical base, à qual não atribuo importância especial, permitiu-me usar o meu metodo fragmentado favorito, tal como nas Nove canções de antónio ramos rosa ou Édipo, tragédia do saber, com o outro, que faz derivar todo o material duma peça de um núcleo central-Monodia ou Três Quados para Almada.
3. Ao fim de vários anos de dúvidas e perplexidades, julgo ter percebido que a essência da minha música reside na sua impureza. Quando trabalho num qualquer quadro geral estilístico que pode ser definido como "jazz" ou "música contemporânea", a minha música por vezes aparentemente contra a minha vontade, orienta-se sempre na direcção do elemento "impuro", da infecção pelos mais diversos vírus, do contágio pelas mais diversas doenças. A pureza estitística é-me completamente estranha. Quando toco ou quando escrevo a minha música reclama sempre outras coisas. Não adianta sequer pensar que esse é um traço fundamental deste tempo. Não sei fazer doutra maneira. Mas é talvez por isso que, mesmo desencadeando por vezes rejeiçoes violentas, o meu trabalho tem interessado as pessoas e tenho tido a sorte de o poder prosseguir sempre.
O 25 de Abril foi ilegal, indisciplinado, incoerente, injusto, insuficiente, por vezes ridículo, mas maravilhoso e inesquecível. Gostava que a minha peça, que tem certamente todos aqueles defeitos, tivesse algum rasto destas qualidades.
António Pinho Vargas (Março de 1998)
Encomenda
Data 1997
Entidade Expo '98 - Exposição Mundial de Lisboa
Localidade Lisboa
País Portugal
Circulação
Obra
Tipo
Data
Entidade/Evento
Local
Localidade
País
Intérpretes
Observações
Inv Row
Os Dias Levantados
Estreia
1998/Jan/01
Teatro Nacional de São Carlos
Lisboa
Portugal
Orquestra Sinfónica Portuguesa
Coro do Teatro Nacional de São Carlos
João Paulo Santos (direcção)