Centro de Investigação & Informação da Música Portuguesa
Música sem fronteiras. Portugal nas Jornadas Mundiais de Nova Música.
No ano em que decorrerá a 1ª edição portuguesa do festival ISCM World New Music Days, o MIC.PT apresenta uma reflexão histórica sobre a ISCM e a presença da música portuguesa nos WNMD.
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Título do documento Requiem à Memória de Passos Manuel
Data de Composição· 2005
Andamentos / Partes
01 - Introitus
02 - Offertorium
03 - Sanctus / Pie Jesu / Sanctus
04 - Lux Aeterna / Tropo
05 - Agnus Dei / Communio
06 - In Paradisum / Regiões Ideais
Instrumentação Detalhada
Categoria Musical Solista(s) e Orq./Ens. e/ou Coro/Conjunto Vocal
Instrumentação Sintética Barítono, Coro Misto e Orquestra
Estreia
Data 2006/Jan/18
Intérpretes
Jorge Vaz de Carvalho (barítono)
Coral Lisboa Cantat
Orquestra Nacional do Porto
João Paulo Santos (direcção)
Local Igreja da Graça
Localidade Santarém
País Portugal
Notas Sobre a Obra
Quando visitei a casa de Passos Manuel situada na Alcáçova de Santarém, por ocasião do convite que me foi endereçado pelo seu trineto, Dr. Pedro Passos Canavarro, para compor uma obra de homenagem à grande figura da história oitocentista portuguesa, deparei com aquele que é um dos cenários mais maravilhosos que alguma vez pude ver: o imenso vale do Tejo que se estende até perder de vista. A profundidade desta imagem converteu-se de imediato em símbolo e logo ali vislumbrei a primeira ideia musical: o In Paradisum, muito providencialmente. Se há paraíso terreal, ali estava ele a meus pés. Achei ali as harmonias fixadas naquela que viria a ser a última secção do Requiem à memória de Passos Manuel. Há também nesse derradeiro andamento uma citação da passagem das Viagens na minha terra de Almeida Garrett (que o Dr. Pedro Canavarro me leu perante aquela paisagem para minha grande perturbação) em que o escritor, então de visita a Passos Manuel em meados do séc. XIX, descreve extasiado aquele mesmo cenário. Eis a passagem que o barítono declama sobre uma cama de timbres pianissimo na harpa e uma melodia da lontano da trompa: (...) No fundo de um largo vale aprazível e sereno está o sossegado leito do Tejo, cuja areia ruiva e resplandecente apenas se cobre de água junto às margens, donde se debruçam verdes e frescos ainda os salgueiros que as ornam e defendem(...): o mais belo, o mais grandioso, e ao mesmo tempo, o mais ameno quadro em que ainda pus os meus olhos. Seguidamente canta uma das minhas páginas musicais mais queridas: Com os olhos vagando por este quadro belo e formosíssimo, a imaginação tomava-me asas e fugia pelo vago infinito das regiões ideais. Depois entra o coro impalpável no In Paradisum litúrgico. O Requiem partiu do fim. Aquela foi a última intervenção do solista, metamorfoseado em Almeida Garrett. Foi para mim absolutamente imperativo pôr o Almeida Garrett a cantar nesta obra a paisagem privada do Passos Manuel, a sua janela para o mundo e, consequentemente, a sua mundividência.
Depois de referir este traço fundamental que atravessa e determina toda a obra, devo apenas acrescentar que este Requiem não tem a sequência do Dies Irae. Esta sequência que fez as maravilhas das motivações teatrais de tantos e tantos compositores, não me interessou aqui tratar. A minha visão é muito mais serena. Tendo em conta a figura homenageada de Passos Manuel, um homem de cultura e de extrema subtileza, quis cantá-lo assim, sem retórica ribombante, sem bateria e sem metais reforçados. Não o Deus da ira, mas o Deus da paz. O seu gesto e a sua memória mereceram-me esta consonância.
Eurico Carrapatoso, Lisboa, 7 de Agosto de 2005
Circulação
Obra
Tipo
Data
Entidade/Evento
Local
Localidade
País
Intérpretes
Observações
Inv Row
Requiem à Memória de Passos Manuel
Estreia
2006/Jan/18
Igreja da Graça
Santarém
Portugal
Jorge Vaz de Carvalho (barítono)
Coral Lisboa Cantat
Orquestra Nacional do Porto
João Paulo Santos (direcção)