Compositor de música instrumental e mista que valoriza a ideia de discurso como "a razão ativa e a energia que tudo anima" - Bruno Gabirro está Em Foco no MIC.PT no mês de novembro.
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Este opúsculo resulta de um convite a mim endereçado pelo Eurico Monteiro.
Apesar de ser eu próprio um guitarrista amador (no sentido essencial do termo), nunca tinha escrito para guitarra até esta ocasião. Se me perguntassem porquê, não teria resposta mais edificante que “santos da casa não fazem milagres” ou “em casa de ferreiro, espeto de pau”. Mas como o Eurico insistiu e insistiu, e como água mole em pedra dura tanto bate até que fura, decidi não deixar para amanhã o que podia fazer hoje. E, já agora, aproveitei para honrar a memória de um dos mitos da minha adolescência: o sempre estimulante Jimmy Hendrix, a fábula da guitarra, o mártir do LSD, o meu heroí que mordia o braço da sua fender stratocaster, levando-me até ao infinito com aqueles guinchos pagãos de matança de porco saídos daqueles amplificadores marshal, com aquela energia musical em tonelada-força que apenas reencontrei no Vº quarteto de cordas de Bartok ou no Iº quarteto de Ligeti.
O 1º e 3º andamentos são virtuosos, com uma pulsação vívida de base binária onde se destacam pontualmente articulações rítmicas ternárias (que naquele quadro binário fazem faísca). Estes dois momentos recuperam um material musical por mim usado nos “Sete epigramas a Francisco de Lacerda” escritos para o Opus Ensemble (1º e 7º epigramas): a conversão destas peças já de si muito difíceis para o trio (piano, violeta e contrabaixo) em peças para guitarra, criou um processo de total re-escrita musical, configurando-se num problema composicional de resolução muito estimulante. O andamento central é uma glosa sobre um famoso tema de Jimmy Hendrix, mas desta vez um Jimmy contido, soft. A guitarra tem agora um som cristalino, cheio de harmónicos, cheia de ressonâncias, num fraseado lânguido, obstinado. A scordatura da corda grave que vai sendo gradualmente desafinada até ao si cavo e profundo final, leva-nos a um estado de absoluta paz interior: cool, man!
Finalmente, não queria deixar de referir que o Eurico foi meu aluno de composição durante três anos no Conservatório Nacional. Começou muito novinho, e foi revelando um talento para a composição inesgotável, tornando-se num dos mais distintos alunos que tive. Por essa cumplicidade, é o meu homónimo desta peça dedicatário.
Eurico Carrapatoso, Lisboa, 15 de Fevereiro de 2002
Circulação
Obra
Tipo
Data
Entidade/Evento
Local
Localidade
País
Intérpretes
Observações
Inv Row
A Jimi Hendrix
Execução
2006/Jan/01
Museu de Arte Contemporânea de Badajoz
Badajoz
Espanha
Júlio Guerreiro (guitarra)
Observações
A Jimi Hendrix
Execução
2008/Jul/04
Sociedade Musical de Guimarães / Ciclo de Guitarra de Guimarães