Compositor de música instrumental e mista que valoriza a ideia de discurso como "a razão ativa e a energia que tudo anima" - Bruno Gabirro está Em Foco no MIC.PT no mês de novembro.
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Subtítulo Cinco Trovas para Inês e Vozes Emocionadas. Fantasia Polifónica sobre Trovas à Morte de Dona Inês de Castro, de Garcia de Resende
Data de Composição· 2003/Jan
Núm. Catálogo Op. 44
Andamentos / Partes
01 - Senhoras, Não Tenhais Medo
02 - Por Verdes, o Galardão
03 - Ganhou Mais Que Sendo Dantes
04 - Por Verdes Como Vingou a Morte
05 - Em Todos Seus Testamentos
Instrumentação Detalhada
Categoria Musical Coro (a cappella)/Conjunto Vocal
Instrumentação Sintética Quinteto Vocal
Estreia
Data 2003/Feb/21
Entidade/Evento Inezeléctrica
Local Teatro Nacional de São João
Localidade Porto
País Portugal
Texto
Autor do Texto Garcia de Resende
Título do Poema ou Texto Trovas à Morte de Dona Inês de Castro
Notas Sobre a Obra
O amor de Pedro e Inês é a linfa da identidade portuguesa. Ali, bem sedimentado na memória afectiva de um povo, mora a arqueologia da saudade, do inefável sentir português. Esta peça que escrevi é a minha flor de verde pinho.
A obra baseia-se nalgumas Trovas à morte de Dona Inês de Castro de Garcia de Resende (1470-1536). Neste tema reencontro a minha matriz original: o estado melancólico que me caracteriza e que sempre se reflectiu no meu olhar em forma de acento circunflexo.
Inspirei-me no cruzeiro de Alcobaça, o panteão do amor eterno, naquele contraste inquietante entre o despojamento cisterciense e o gótico pungente das esculturas funerárias dos amantes. De igual modo, pretendi que a minha música ocultasse, com um gesto sóbrio abrangente, uma contenance íntima e incandescente, através de uma escrita para cinco vozes solistas onde se favorecesse a interjeição, o madrigalismo, a declamação emocionada.
E depois olhei obliquamente para os mestres da minha vida, os polofonistas do Outono medieval e da Primavera humanista. Dediquei a obra ao meu patrono, mestre Pero do Porto, compositor português pioneiro, da mais fina subtileza, contemporâneo de Garcia de Resende. Esta metempsicose estética não é involuntária. Bem pelo contrário, faz parte da minha demanda pela alquimia de um contraponto perdido, a única arte musical que não discuto.
Eurico Carrapatoso, Lisboa, 5 de Fevereiro de 2003