Compositor de música instrumental e mista que valoriza a ideia de discurso como "a razão ativa e a energia que tudo anima" - Bruno Gabirro está Em Foco no MIC.PT no mês de novembro.
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Título do documento Motetes para um Tempo de Paixão
Data de Composição 2002/Jan · 2002/Feb
Núm. Catálogo Op. 39
Dedicatória
A José Luís Borges Coelho
Instrumentação Detalhada
Categoria Musical Solista(s) e Orq./Ens. e/ou Coro/Conjunto Vocal
Instrumentação Sintética Soprano e Coro Misto a 8 Vozes
Estreia
Data 2002/Oct/05
Intérpretes
Angélica Neto (soprano)
Coral de Letras da Universidade do Porto
José Luís Borges Coelho (direcção)
Local Igreja da Misericórdia
Localidade Viana do Castelo
País Portugal
Notas Sobre a Obra
Esta obra resulta de uma encomenda da Academia de Música de Viana do Castelo, e a sua estreia insere-se no quadro do Ciclo de Música Sacra Viana 2002.
É uma obra para soprano solista e coro a cappella, com uma duração aproximada de trinta minutos. Está dividida em catorze números, sete deles em latim e os outros sete em português. Esta confrontação entre o sacro e o profano (popular se preferirmos), ou seja, entre o latim e o português, é uma abordagem habitual e recorrente na minha escrita, tendo-a já usado, por exemplo, no meu Horto Sereníssimo e no Magnificat em talha dourada com resultados para mim muito satisfatórios. Sinto-me assim realizado na minha identidade latina, em geral, e portuguesa, em particular. Aliás, a minha identidade clássica começa no facto espontâneo de ter nascido numa família que, para além de ser temente a Deus, se dedica tradicionalmente à olivicultura, à árvore da cultura e da civilização. Tal como as minhas oliveiras, esta música é antiga. Nasceu medieval.
Os números em latim ( Timor et tremor, In monte Oliveti, Tristis est anima mea, Vinea mea electa, Tenebrae factae sunt, Caligaverunt oculi mei e O vos omnes) alternam com harmonizações de velhas melodias populares portuguesas do quadro da Paixão, extraídas dos Cantares do povo português de Rodney Gallop e do Cancioneiro popular português de Michel Giacometti / Lopes-Graça.
A temática é muito forte, muito densa: a atitude do homem perante a morte, por um lado, e a força profunda do maior baluarte do cristianismo que é a vitória sobre a morte, por outro. Este assunto excitou desde sempre a imaginação mais cava dos compositores, produzindo das páginas mais sublimes e impressionantes da história. Mas preferia citar neste momento aquilo que a inteligência anónima do povo alentejano, na sua finíssima sensibilidade, logrou no nº 10, Lírio Roxo:
A morte vem e não tarda,
Eu dela não me atemorizo,
Meu lírio roxo...
Esta atitude desassombrada, associada ao imenso langor do modo mixolídio em que a sensibilidade musical do povo de Serpa a fixou, sempre me tocou na tecla mais funda que possa eu ter.
O ciclo encerra com Alvíssaras. Aqui está o naco da minha infância, único recolhido por mim, pela minha memória afectiva dos sons e do mundo, quando cito o impressionante canto responsorial entre o pároco e os feligreses da minha aldeia, durante a visita pascal: há trinta e tal anos atrás, a música alternava entre os versículos em latim que o meu tio padre Fernando, o pároco, cantava, com a sua voz tíbia, e a resposta estrepitosa, glissada e aberta do povo de Alvites, num registo de bronze debruado a ouro pelo organum paralelo de terceira e de quinta que saía da boca desdentada do senhor Firmino.
A obra é dedicada a José Luís Borges Coelho, o meu primeiro professor de composição e o grande responsável pelo rumo que a minha vida vai levando.
Eurico Carrapatoso
Encomenda
Data 2002
Entidade I Ciclo de Música Sacra de Viana do Castelo
Localidade Viana do Castelo
País Portugal
Circulação
Obra
Tipo
Data
Entidade/Evento
Local
Localidade
País
Intérpretes
Observações
Inv Row
Motetes para um Tempo de Paixão
Estreia
2002/Oct/05
Igreja da Misericórdia
Viana do Castelo
Portugal
Angélica Neto (soprano)
Coral de Letras da Universidade do Porto
José Luís Borges Coelho (direcção)