· obra para quinteto (ob., cl., vl., vla. e cb.)
· estreia: 28.1.02, em Lisboa, na Fundação Gulbenkian, pelos solistas da Orquestra Gulbenkian
Instrumentação Detalhada
Categoria Musical Música de câmara (de 2 a 8 instrumentos)
Instrumentação Sintética Oboé, Clarinete, Violino, Viola e Contrabaixo
Notas Sobre a Obra
Este conjunto de peças reunidas à guisa de suite, resulta de um convite a mim endereçado pelo meu amigo Andrew Swinnerton, da minha obra dedicatário.
Os vários andamentos musicais são alternados com um rondó que dá à forma musical, mais do que um elemento unificador, um certo carácter obsessivo. Esse carácter obsessivo transforma-se num elemento propedêutico do número final, uma citação do inefável Dona nobis pacem da missa Pange lingua de Josquin Desprez. O intervalo frígio de 2ª menor (mi-fa-mi), que é o intervalo melódico-harmónico preponderante das texturas do rondó, é precisamente o intervalo orgânico da obra prima de Josquin, particularmente patente no início dessa peça, mas sempre presente de uma forma mais ou menos subliminar ao longo do andamento. Esse intervalo frígio constitui-se, afinal de contas, como um cordão umbilical entre mim e o compositor do Renascimento, cuja música e significado histórico tanto admiro. Os outros andamentos, ora de um carácter mundano (in taberna), ora de um carácter alucinado (in manicomium), não são mais que um tragiversar musical, na sua expressão de bagatelas seculares e transitórias, desta ascensão à luz seráfica da música de Josquin. E nesse sentido, a obra tem o seu “quê” de platónico, de alegoria da caverna, dessa experiência redentora que resulta da transição do físico (aqui representado pela minha música transitória e perecível), ao metafísico, esse lugar mais alto onde circulam os arquétipos e ao qual acede exclusivamente a música dos eleitos como a de Josquin.
Eurico Carrapatoso, Lisboa, 17 de Janeiro de 2002