O ano de 2025 será marcado pela organização, pela primeira vez em Portugal, do festival ISCM World New Music Days, que decorrerá entre os dias 30 de maio e 7 de junho em Lisboa e no Porto. Neste contexto, dedicamos a secção Em Foco de março à história e à presença da música portuguesa nas Jornadas Mundiais de Nova Música, uma iniciativa da Sociedade Internacional para a Música Contemporânea (ISCM) e, sem dúvida, um dos maiores e mais vibrantes festivais anuais dedicado à música erudita contemporânea.
A história das relações entre Portugal e a Sociedade Internacional para a Música Contemporânea tem quase 80 anos, nos quais se destaca, por um lado, a atividade do compositor Jorge Peixinho, entre 1976 até à sua morte em 1995 e, por outro, a atividade, desde 1999 até hoje, da Miso Music Portugal enquanto a Secção Portuguesa da ISCM. Graças à dinâmica criada tanto por Jorge Peixinho como pela Miso Music, desde 1975 e até agora, nas Jornadas Mundiais de Nova Música da ISCM foram apresentadas mais que 50 obras de compositores portugueses.
Em março visitem a secção Em Foco e familiarizem-se não só com este capítulo significante no que à história da internacionalização da música portuguesa diz respeito, mas também com a história da própria ISCM, criada em 1922 em Salzburgo na Áustria.

A obra para adufe e eletrónica Ensaios Sobre Cantos IV (2019) de Ângela da Ponte (compositora editada pelo MIC.PT), será apresentada no próximo dia 22 de março no Centro Cultural Municipal de Vila das Aves (Santo Tirso). A ocasião será a estreia do projeto Nativo de Tiago Manuel Soares, que, como revela a sua sinopse, conta com uma experiência de 20 anos «de um profundo estudo, formação e carreira ligados à música de raíz». Aqui, este músico «apresentar-se-á a solo, com a percussão tradicional portuguesa como ponto central da narrativa, num espetáculo pioneiro. Nativo vai à descoberta de novas estéticas, numa visão contemporânea da diversidade deste património imaterial português, vista aos olhos de artistas atuais que nunca se desconectaram das suas raízes.» Neste sentido, além da obra de Ângela da Ponte, no âmbito deste espetáculo Tiago Manuel Soares interpretará ainda peças de Fernando C. Lapa (compositor editado pelo MIC.PT) e Filipe Fernandes.

A 21 de março, no O’culto da Ajuda em Lisboa, será interpretada a obra Do lume que pesa (2019) de Carlos Brito Dias (compositor editado pelo MIC.PT). Encomendada pelo Sond’Ar-te Electric Ensemble, a peça será executada por este grupo, sob a direção de Pedro Neves. O Sond’Ar-te contará com Sílvia Cancela (flauta), Nuno Pinto (clarinete), Vítor Vieira (violino), Filipe Quaresma (violoncelo), João Casimiro Almeida (piano) e João Dias (percussão). O concerto abrirá com a estreia da compositora polaca Monika Szpyrka Regrowing (2023), obra vencedora da Tribuna Internacional de Compositores e composta por encomenda da Eurorádio. O evento será assim transmitido na sua totalidade em direto pela Antena 2. Explorando a fusão entre instrumentos acústicos e eletrónica, o programa inclui ainda Reticulatum (2022) de Valerio Sannicandro, Gravitas (2023) de David Miguel e D’un horizon tendu (2019) de Miguel Azguime (estes dois últimos compositores também editados pelo MIC.PT).

No mais fundo de ti... (2014) de Clotilde Rosa e Llanto por Mariana (1986) de Jorge Peixinho, são as duas obras destes compositores editados pelo MIC.PT incluídas no programa do concerto comentado que o GMCL – Grupo de Música Contemporânea de Lisboa, sob a direção de Vasco Pearce de Azevedo, irá apresentar no próximo dia 21 de março, no Auditório da Escola de Música São Teotónio em Coimbra. Os comentários realizados neste contexto focar-se-ão na ligação entre a poesia e a música na obra de Clotilde Rosa, por um lado e, por outro, na temática da liberdade, criando um paralelismo histórico entre a Guerra Civil Espanhola e Revolução dos Cravos em Portugal. No contexto deste concerto será ainda apresentado o resultado do processo criativo desenvolvido nos workshops orientados pelos músicos do GMCL com os alunos da Escola de Música São Teotónio. Neste sentido, o GMCL e os alunos participantes nos workshops interpretarão as peças Improviso I e Improviso II de Peixinho/ Machado.

Três obras de David Miguel (compositor editado pelo MIC.PT) serão interpretadas ao longo do mês de março. A primeira peça, Soneto do amor e da morte (2014) para coro misto, será apresentada na XXVII Semana Cultural da Universidade de Coimbra. O concerto do Coro Misto da Universidade de Coimbra terá lugar no Salão de São Tomás de Aquino, no Seminário Maior de Coimbra, a 13 de março. Este espetáculo insere-se no ciclo O Canto dos Poetas. Na semana seguinte, no dia 21, no âmbito de mais um Concerto em Direto da Antena 2 no O’culto da Ajuda em Lisboa, o Sond’Ar-te Electric Ensemble sob a direção de Pedro Neves interpretará a obra Gravitas que David Miguel compôs em 2023, em reposta à encomenda da Miso Music Portugal. No final do mês, a 29 de março, ouvir-se-á em estreia absoluta a obra Miserere para coro e quinteto de cordas. O concerto do Ensemble Polaris sob a direção de Gonçalo Lourenço ocorrerá na Capela de São Francisco, no Fundão, e enquadra-se no ciclo Quadragésima, dedicado às tradições da Quaresma.

O projeto de Filipe Esteves (compositor editado pelo MIC.PT), Sons Interiores/ Interior dos Sons – uma alquimia doméstica, foi recentemente editado em CD pela Miso Records, sendo que o lançamento deste novo álbum decorrerá a 29 de março no O’culto da Ajuda em Lisboa. «O presente trabalho pode ser considerado a contraparte do meu primeiro CD monográfico, editado em 2021, intitulado Sul e Sueste», diz Filipe Esteves. E continua: «Se, naquele, o mote tinha sido a “paisagem sonora” citadina, neste, a ideia emergiu do ambiente doméstico, a partir da escuta intencional de fontes sonoras que, no dia a dia, quer por serem quase inaudíveis, quer pela sua permanência e vulgaridade, tendem a ser obliteradas ou ignoradas.» No contexto do lançamento, Filipe Esteves realizará a difusão sonora das composições do projeto Sons Interiores/ Interior dos Sons através da Orquestra de Altifalantes da Miso Music Portugal. Na mesma noite, terá lugar ainda o lançamento de um outro CD editado pela Miso Records – Eight Dialogues de Armando Teixeira (sintetizadores Buchla) e Miguel Leiria Pereira (contrabaixo).

Nos dias 8 e 9 de março na Fundação Calouste Gulbenkian em Lisboa, decorrerão várias performances comunitárias no contexto do projeto Corpos Sonoros II (inseridas no programa pedagógico Rising Stars), que contarão com a participação da violinista Beatriz Costa e de Jaime Reis (compositor editado pelo MIC.PT). Corpos Sonoros II é uma iniciativa do Projecto DME que cruza a criação, a arte sonora, a escultura, a instalação e a performance comunitária, em que os participantes criam e exploram diversos sons através do «corpo sonoro» concebido a partir do esqueleto de um piano. Adicionalmente, a obra eletroacústica Fluxus, pas trop haut dans le ciel, composta por Jaime Reis em 2017, será apresentada no festival SO.UND.ING Acousmonium Octa-Fusion, a 17 de março no Kino Šiška em Liubliana. O programa do segundo dia desta iniciativa do Instituto de Processamento de Arte Contemporânea (Eslovénia), a 18 de março, incluirá ainda as apresentações da música eletroacústica de Mariana Vieira (compositora editada pelo MIC.PT), Cristóvão Almeida e Marta Domingues.

João Castro Pinto (compositor editado pelo MIC.PT), foi convidado a apresentar a sua mais recente peça acusmática – Circumsphere: to Bounce & Rebounce (2024) – na 4.ª edição do Festival Imersivo (organizado pelo Projecto DME), um evento anual dedicado à música eletroacústica e à exploração do espaço sonoro, que este ano decorrerá entre 20 e 23 de março, no Lisboa Incomum. O festival coloca em destaque os sistemas de som em forma de cúpula, proporcionando uma experiência auditiva imersiva, onde o espaço se torna um elemento fundamental na composição e perceção musical. Neste sentido, João Castro Pinto irá espacializar a sua obra através do sistema de som multicanais do Lisboa Incomum, espaço sede do Projecto DME.

A obra de Miguel Azguime, D’un horizon tendu (2019), será apresentada a 21 de março no O’culto da Ajuda em Lisboa, pelo Sond’Ar-te Electric Ensemble e Pedro Neves (maestro). Composta para quarteto amplificado, a obra foi encomendada a este compositor editado pelo MIC.PT pela Fundação Kwartludium na Polónia. O concerto, no âmbito da qual terá lugar também a estreia de Regrowing (2023) da compositora polaca Monika Szpyrka, distinguida na Tribuna Internacional de Compositores, será transmitido em direto na Antena 2. Criada em 1949 como órgão da UNESCO e organizada pelo Conselho Internacional de Música, a Tribuna é um fórum de representantes de organizações de radiodifusão que se reúnem com o propósito de trocar e transmitir música contemporânea.

No dia 14 de março, o Duo Interdito, formado por Sofia Marafona (soprano) e Duarte Pereira Martins (piano), apresentará a obra Rente ao chão do compositor Miguel Resende Bastos (editado pelo MIC.PT), inspirada no poema de Eugénio de Andrade que pertence ao volume Rente ao Dizer. O concerto acontecerá no O’culto da Ajuda em Lisboa e integra o projeto Caderno de Eugénio, uma iniciativa do duo para celebrar o centenário do poeta. Celebrando a própria «ligação entre literatura e música, tão cara a Eugénio», citando o duo, este programa incluirá também obras de Erwin Schulhoff e Wolfgang Rihm. Além disso, no concerto serão também apresentadas peças de vários compositores portugueses inspiradas na poesia de Eugénio de Andrade. Entre elas, além da obra de Miguel Resende Bastos, encontra-se Nocturno de Camila S. Menino, Toda a poesia é luminosa de Sara Ross, Oiço correr a noite pelos sulcos de Carlos Lopes, Contigo de Pedro F. Finisterra e Lume breve de Fábio Cachão.

No dia 2 de março, a compositora Sara Carvalho (editada pelo MIC.PT) terá uma obra interpretada nos Dias da Percussão de Portimão, no concerto para famílias Música a Sério para Instrumentos de Brincar. Como se pode ler na descrição do espetáculo, o foco deste projeto é «a utilização de objetos, instrumentos e dispositivos normalmente associados ao jogo e à brincadeira, num contexto de produção artística, como uma alternativa à criação baseada em sonoridades e instrumentos convencionais». A obra de Sara Carvalho incluída neste concerto é where the wild things are (2022) para flauta de bisel, piano de brincar e percussão amplificada. A interpretação estará a cargo do Borealis Ensemble, composto por António Carrilho (flautas), Helena Marinho (teclados) e Nuno Aroso (percussão). O programa inclui ainda obras de Francisco Ribeiro, Carlos Caires, Hugo Ribeiro e Nuno Peixoto de Pinho, sendo estes três últimos também compositores editados pelo MIC.PT.

A Nova Página de Compositor de Carlos Lopes foi ativada em fevereiro no MIC.PT. O jovem compositor tem uma obra variada, com especial destaque para a música de câmara e peças para instrumento solo. No seu percurso, sobressai a participação no workshop ENOA – Composing for Voices, na Fundação Calouste Gulbenkian, onde trabalhou sob orientação do compositor Luís Tinoco. No concerto final deste workshop, em julho de 2019, a sua obra 5 Variações do Desassossego foi estreada pela Orquestra Gulbenkian e pelo barítono Tiago Matos, sob a direção de Pedro Neves. Além da Orquestra Gulbenkian, Carlos Lopes tem colaborado com ensembles portugueses como a Orquestra Sinfónica do Porto e o Remix Ensemble Casa da Música. Estudou Piano e Composição na Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo do Porto e participou em workshops com figuras de renome como Peter Rundel, Helmut Lachenmann, Harrison Birtwistle, Philippe Manoury e o Ensemble Mosaik, em colaboração com Luís Antunes Pena, João Pedro Oliveira, entre outros. Atualmente, frequenta o Mestrado em Direção de Música Contemporânea na Hochschule für Musik und Tanz de Colónia, onde estuda com a professora Susanne Blumenthal.

O Festival Imersivo 2025, uma iniciativa do Projecto DME, decorrerá entre os dias 20 a 23 de março no Lisboa Incomum. Este evento anual é dedicado à música eletroacústica, destaca os sistemas de som em forma de cúpula do espaço Lisboa Incomum, proporcionando uma experiência auditiva imersiva única. A edição deste ano do Festival Imersivo tem uma forte componente de música portuguesa, uma vez que vários compositores portugueses foram convidados a apresentar peças acusmáticas, ao longo do festival. O programa do festival, em atualização, englobará concertos, mesas redondas, seminários com Annette Vande Gorne, Elizabeth Anderson, João Pedro Oliveira e Mario Mary e uma instalação com peças selecionadas no âmbito da Call for Music lançada pelo Projecto DME.

A Câmara Municipal das Lajes do Pico e o Grupo Coral das Lajes do Pico, em parceria com o Centro de Investigação e Informação da Música Portuguesa – MIC.PT, promovem o V Prémio Nacional de Composição Coral Manuel Emílio Porto. O Município das Lajes do Pico, considerando a extraordinária dimensão artístico-musical do maestro Manuel Emílio Porto que foi uma figura fundamental do universo musical e coral açoriano, tomou a iniciativa de organizar este concurso com o objetivo de estimular a criação de novas obras para coro, valorizando, simultaneamente, a língua portuguesa. O concurso, dirigido a compositores de nacionalidade portuguesa a residir ou não em Portugal, ou de nacionalidade estrangeira a residir em Portugal há mais de dois anos, compreende as categorias de Coro Misto e Vozes Brancas. O júri do concurso é constituído por Christopher Bochmann, Jorge Matta e Hildeberto Peixoto, sendo que o prazo de entrega de trabalhos é 6 de abril de 2025.

Estão abertas, até ao próximo dia 18 de julho, as candidaturas para a 8.ª edição do Prémio de Composição Acordeão, uma iniciativa da Associação Folefest com o objetivo de promover e incentivar a criação musical contemporânea para acordeão na sua vertente erudita, contribuindo desta forma para o desenvolvimento, em quantidade e qualidade, deste repertório. O prémio destina-se a compositores de nacionalidade portuguesa ou estrangeiros residentes em Portugal, de qualquer idade. As obras a apresentar (para acordeão solo ou acordeão com eletrónica) têm de ser inéditas, reservando-se à organização do prémio o direito à estreia absoluta das obras premiadas. O júri do prémio é formado por: Amílcar Vasques-Dias (compositor), Ângela da Ponte (compositora) e Paulo Jorge Ferreira (acordeonista/ compositor e presidente do júri).

No passado mês de novembro o MIC.PT publicou no Canal YouTube mais duas Entrevistas do ciclo Na 1.ª Pessoa com os compositores Diogo da Costa Ferreira e Luís Neto da Costa, conduzidas pelo musicólogo e jornalista Pedro Boléo e gravadas em 2023 no O’culto da Ajuda em Lisboa.
Presentemente o Canal YouTube do MIC.PT contém vídeos com 35 Novas Entrevistas a compositoras e compositores residentes em Portugal realizadas desde 2019, assim como oito Entrevistas do Arquivo do MIC.PT realizadas entre 2003 e 2005.
Conduzidas por Pedro Boléo, filmadas no O'culto da Ajuda em Lisboa e realizadas no contexto do ciclo Na 1.ª Pessoa das emissões radiofónicas Música Hoje e Música de Invenção e Pesquisa (produzidas pelo MIC.PT e pela Miso Music Portugal para a Antena 2), estas Novas Entrevistas constituem uma (re)visita ao universo criativo dos vários compositores e compositoras editados pelo MIC.PT, dando seguimento às Entrevistas Históricas realizadas pelo MIC.PT há quase 20 anos e que agora constituem registos únicos da evolução da linguagem de cada um dos artistas entrevistados.
Para aceder às Entrevistas sigam as ligações em baixo e/ ou visitem o Canal YouTube do MIC.PT.