Esta pequena mas atractiva dança foi a primeira peça que Stravinsky compôs nos Estados Unidos, quando para lá emigrou durante a segunda guerra mundial. Originalmente para piano, foi escrita em Hollywood em 1940 e parece modelada no mesmo estilo do Ragtime composto na Suíça no fim da primeira guerra (em 1918). Com a intenção de manter um ininterrupto discurso sincopado – e só ocasionalmente com o característico ritmo de tango – a música mantém-se num inalterável quaternário, e numa inalterável quadratura (os parágrafos musicais são sempre em unidades de oito compassos, 88 compassos ao todo para uma duração total de 4 minutos, o que exige um metrónomo de 88). A sua forma segue o esquema : A (introdução) - B (grupos temáticos Bi, Bii, Biii, Bii, Biii) - C (trio Ci, Cii) - B (Bi, Bii) - A (coda com o mesmo material da introdução). Porque não é uma peça idiomaticamente pianística, e porque Stravinsky esperava que esta peça fosse explorada de várias maneiras, o Tango foi instrumentado várias vezes. Primeiro por Felix Guenther (orquestração aprovada pelo compositor), depois pelo próprio autor em 1953. Em projecto ficou a possibilidade de um arranjo para Dance Band e outra como canção popular. Também existe uma versão para violino e piano feita por Samuel Dushkin, mas segundo Eric Walther White nunca foi publicada. Ocasionalmente ouvem-se outras versões (nomeadamente para dois acordeões). Para mim, o Tango relaciona-se em termos de sentimentalismo irónico com o Pesante das Oito Miniaturas Instrumentais; esse aspecto acabou por se reflectir tanto no arranjo (feito a partir da partitura original para piano), como no alinhamento do programa.
José Eduardo Rocha