Compositor e investigador doutorando na FCSH/ Kunstuniversität Graz/ Fondazionne Archivio Luigi Nono e membro do Concrète [Lab] Ensemble, João Quinteiro está Em Foco no MIC.PT em março.
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Título do documento 14 Denotações para violoncelo solo
Data de Composição 2000/Dec · 2001/Jul
Núm. Catálogo Op. 7
Dedicatória
a Paulo Gaio Lima
Instrumentação Detalhada
Categoria Musical Solo
Instrumentação Sintética Violoncelo
Notas Sobre a Obra
A peça Denotações foi inspirada pela audição de Paulo Gaio Lima a interpretar Carlos Marecos e Lopes Graça, num concerto do prémio Lopes Graça – em 17 Dez 00 – no Museu Verdades de Faria no Monte Estoril. Logo no dia a seguir de manhã, comentei o facto com o meu professor C. Bochmann (que também foi violoncelista) e no serão do mesmo dia (18 de Dez) comecei a reunir materiais e a escrever a peça.
O facto de as peças de Marecos [1] serem Miniaturas, e as de Graça serem umas inspiradas Inflorescências [2], constituindo por si só um recital a solo auto suficiente, e serem soberbamente interpretadas por Paulo Gaio Lima, determinou o tipo de peças que desejava escrever.
Quanto ao título pareceu-me interessante nestas circunstâncias homenagear Fernando Lopes Graça aludindo às suas 14 Anotações para quarteto de cordas (uma peça que também adoro). De qualquer modo os mistérios do título não se ficaram por aí: através deste conjunto de peças outros significados musicais e semânticos vieram a lume. O principal relaciona-se com a palavra denotação e o verbo denotar, que significa (pelo menos nos dicionários que consultei) exprimir ou significar qualquer coisa através de certos sinais. Como tenho investido intensamente no problema da notação musical e dos conceitos gráficos das partituras, pareceu-me esta peça uma oportunidade de experimentar novas escritas e sinalécticas segundo esse sentido algo semiótico.
Além disso podia glosar com a história da música - uma das minhas tentações politicamente incorretas – inserindo o nome da peça numa genealogia de títulos emblemáticos de obras do século XX, que andam à volta deste tipo de ideia. Resumindo: depois das Conotações de Copland, das Notações de Boulez e das Anotações de L.Graça, as Denotações de José Eduardo Rocha.
Também o número 14 se prestava a especulações simbólicas, das pirâmides à via sacra, passando pela obra do Graça atrás referida; musicalmente, a quantidade determinava uma espécie de pluralidade na unidade, com raízes também na história da música (um pouco de tema & variações, um pouco de suite, uma série ou raiz de onde deriva todo o material, alguns números contrastantes e até desproporcionados, etc.).
Ao mesmo tempo – assistido por Bochmann – aprofundava o meu conhecimento das cordas (já com um Trio op.1 e um Quarteto op.4), desenvolvia a minha escrita solística e compunha tendo em vista um virtuoso que tinha observado e “estudado” em plena acção, pois fiquei como de costume na primeira fila, mesmo em frente ao homem, nesse concerto de fim de tarde invernosa [3].
Os resultados da análise da sua mimesis – provavelmente provocada pelo reportório que tinha que interpretar naquela ocasião – acabaram por se reflectir nas peças que compus, sobretudo nos aspectos mais gestuais/teatrais. A composição das 14 Denotações, várias vezes interrompida por outras solicitações, estendeu-se de Dez de 00 a Jul de 01.
A peça é bastante exigente quanto à atitude performativa do executante. O admirável Paulo Gaio Lima parece-me ideal para este tipo de obra que pode constituir uma parte inteira de um espectáculo.
Quanto à dedicatória, ela é puramente utópica, pois não conheço o violoncelista pessoalmente. Por ventura teremos trocado uns olhares de cumplicidade abstracta (ambos somos de 61).
José Eduardo Rocha (Julho 2001)
1] Era a segunda vez consecutiva que lhe atribuíam o prémio.
[2] Que já conhecia de um disco por Clélia Vital (aliás a dedicatária das peças).
[3] Foi um concerto fecundo em vários aspectos, por exemplo transcrevi a primeira Inflorescência de F. L. Graça para melódica alto (a partitura original foi editada pela Musicoteca).