NEGRO ALBA – para marimba e eletrónica (Fevereiro de 2020) é uma obra encomenda do Festival Internacional de Música da Primavera de Viseu, para ser estreada em abril do mesmo ano.
Há anos, o tema de uma sessão para jovens estudantes, com o compositor
Cândido Lima, na Academia de Música de Santa Maria da Feira, foi “Como nasce uma ideia?”. De que parte o compositor quando tem um papel em branco à sua frente? Quais as naturezas de uma ideia? Qual o princípio do princípio?
Após o convite para a escrita desta obra, ocorreu-me socorrer-me de uma visão, a cor, ou melhor a ausência da cor, já que nem o branco nem o preto são propriamente cores, sendo acromáticas, ou sem matiz, por oposição, o preto pela absorção de todas as radiações e o branco pela reflexão de todos os raios luminosos, não absorvendo nenhum e que, na verdade, encerra em si todas as cores. Como num teclado de piano, a preto e branco, como na escrita “En blanc et noir”, para 2 pianos, de Claude Debussy, é uma imagem o motor da organização, da construção, da coordenação dos sons mesmo que essa ideia, essa visão, não passe de um motor de arranque para algo muito mais estruturado e meditado, para além do epidérmico e do sensorial. Daqui o título.
Instrumento de tradição modal, de proveniências africanas, dos ritos e dos ritmos africanos, músicas de repetição e de hipnotismos, NEGRO ALBA, usa de todos os recursos habituais do instrumento (agora envernizado…) e das técnicas de composição. Repetições, ostinati, trémulos, escalas, poliritmias, sons percussivos, apogiaturas, paralelismos, polimétricas, glissandi, entre outros.
A eletrónica é como a polarização, do mundo da física, das ondas refletidas da marimba.
Ângela Lopes