“Diurno e Noturno” ou “Noturno e Diurno”? A escolha do título está ao critério dos intérpretes, assim como decidir o que surge primeiro: a noite ou o dia.
Estas peças foram escritas e dedicadas ao clarinetista Luís Gomes. A ideia é poder tocar-se as duas obras de seguida (como se fossem andamentos de uma peça), com opção por parte do intérprete na sua ordem, significando a passagem de um dia completo. Tal não invalida a apresentação de cada uma das obras de forma independente.
Diurno, segundo as palavras de Sylviane Falcinelli, “Diurno é uma peça em chamas, com alusões ao latino e jazz, mas cheia de cores”. Foi a primeira obra que a autora escreveu para o clarinete baixo e que descreve como um retrato de si própria em cerca de 7 minutos de música. Escrita em 2015 e estreada nesse mesmo ano por Luís Gomes e
Ana Telles, a composição retrata a agitação citadina, em movimento constante, pontuada aqui e ali por momentos de tensão que cedo se materializam em efeitos de “slap”, no clarinete baixo. Estes primeiros “sinais” dão o mote para a azáfama que caracteriza toda a obra.
Noturno, composto três anos mais tarde que
Diurno, explora o lado oposto, mais intimista, introspetivo, a serenidade do cair da noite, a calma, o relaxar da natureza e do ser humano. Procura o explorar das características melódicas e sonoras do clarinete baixo numa fusão intimista com o piano.
Noturno pode ser o início da noite ou o fechar de um dia.
Anne Victorino D’Almeida
GRAVAÇÃO [Luís Gomes (clarinete baixo),
Ana Telles (piano); Festival DME; Lisboa Incomum; 2021.03.21]